O mundo do esporte “rachou” com a repercussão do caso do jogador de vôlei Maurício Souza, demitido pelo Minas Tênis Clube após tecer comentários homofóbicos nas redes sociais. Tudo começou no último dia 15, quando o campeão olímpico registrou em seu Instagram o descontentamento com a notícia de que Joe Kent, filho do Super-Homem e herdeiro do título do pai, revelou-se bissexual nos quadrinhos da DC Comics.
“Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa para ver onde vamos parar.” Douglas Souza, companheiro de Maurício na Tóquio 2020 e homossexual assumido, rebateu: “Engraçado que eu não ‘virei heterossexual’ vendo os super-heróis homens beijando mulheres. Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para sua heterossexualidade frágil”.
Em sua tréplica, o ex-atleta do Minas disse que não abrirá mão de suas crenças. “Hoje em dia, o certo é errado e o errado é certo. Não se depender de mim.” A partir daí, uma série de esportistas tomaram lado e até políticos entraram no meio da briga.
Estrelas do vôlei feminino, Carol Gattaz e Rosamaría repudiaram as declarações do central. O treinador Renan Dal Zotto, da seleção brasileira masculina, chegou a fechar as portas do time nacional para o veterano de 33 anos. Ativista em prol de minorias, a ex-nadadora Joanna Maranhão tirou sarro dos recorrentes vídeos que Maurício Souza fez para tentar limpar a barra (todos eles de maneira pouco convincente).
“Sem clube e sem seleção. Blogueirinho. Enquanto o Douglas está lá, jogando na Itália, sambando na cama da vila, desfilando na quadra e sendo peça fundamental para a tomada de c* que tu levou, otário invejoso”, disparou. Já Casagrande, comentarista da Globo, questionou o caráter de Maurício. Do outro lado, vários esportistas se solidarizaram a ele, especialmente após a saída do Minas por pressão da Fiat e da Gerdau, patrocinadores do clube.
Ficaram ao lado do grandalhão de 2,09 m personalidades como ex-levantador Ricardinho, o jogador de basquete Nenê Hilário, o meio-campista palmeirense Felipe Melo, o atacante Fred, do Fluminense e o volante Souza, com passagens por Grêmio e São Paulo. Este último chegou a tomar as dores do amigo para rebater Casão.
“O Casagrande vive ofendendo atletas. Vamos começar a ofendê-lo também”, incentivou o jogador do Besiktas. O tenista João Souza, o Feijão, também dispensou comentários nada elogiosos ao comentarista global. “Não ligue para o aspirador de pó”, ironizou, fazendo piada com a dependência química do ídolo do Corinthians.
O debate extrapolou o mundo esportivo e se estendeu à esfera política. Próximo à família de Jair Bolsonaro (sem partido), Maurício Souza viu quase todo o clã sair em sua defesa. “Puta que o pariu, impressionante né? Tudo é homofobia, tudo é feminismo”, disse o presidente da República, em fala transmitida por suas redes sociais.
O senador Flávio Bolsonaro, por sua vez, preferiu incentivar um boicote às empresas Fiat e Gerdau, patrocinadoras do Minas, que pressionaram o clube a punir o atleta. Eduardo, deputado federal, e Carlos, vereador, solidarizaram-se ao jogador de vôlei (e criticaram Casagrande) nas redes sociais.
Até a primeira-dama Michelle apareceu no perfil de Maurício, em um post no qual o campeão olímpico reclamou do “ódio do bem” de Casão, para manifestar apoio. “Que desrespeito com o nosso atleta medalhista, gente”, disse a esposa de Jair.
O Instagram de Maurício acabou virando uma grande reunião de conservadores, alguns deles integrantes ou ex-integrantes do governo Bolsonaro. O secretário de Cultura, Mário Frias, aplaudiu o texto no qual o central diz “continuar seguindo o que acredito”.
Os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), os deputados federais Carlos Jordy (PSL-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP), os deputados estaduais Coronel Sandro (PSL-MG) e Gil Diniz (sem partido-SP, conhecido como Carteiro Reaça), e o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira também deram as caras por lá.
Em duas semanas, o jogador de vôlei passou de 200 mil seguidores para 1,8 milhão até a conclusão desta reportagem.