O motorista de aplicativo Novais Divino Soares, de 53 anos, precisa realizar uma cirurgia cardíaca, mas desde julho ele aguarda uma data para conseguir o procedimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele conta que precisou parar de trabalhar e já foi internado duas vezes nesse período.
Por isso, teme pela vida enquanto não consegue resolver seu diagnóstico na válvula Mitral. “A gente fica sem poder de ação mediante a notícia de que esse tipo de cirurgia estava parado. Então a gente tem que aguardar, não tem outra alternativa”, relata.
A situação de Novais, no entanto, não é um caso isolado. Cerca de 50 mil brasileiros aguardam por cirurgias cardíacas, um verdadeiro apagão causado pela falta de materiais, insumos e os valores pagos pelo SUS defasados.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, Eduardo Rocha, ressalta que o Estado de Goiás é o mais atingido, com o cancelamento das cirurgias até a normalização dos materiais. “Vários e vários pacientes estão deixando de ser operados. E à medida que deixam de ser operados no momento ideal, algumas doenças cardíacas progridem e pioram.
Com isso, vamos operar doentes em estado pior, com maior mortalidade e maior sofrimento para esses pacientes”, explica. Eduardo Rocha reforça que os hospitais estão sem oxigenadores, válvulas cardíacas e cânulas, materiais essenciais nas cirurgias.
O médico lembra que os valores pagos pelo Sistema Único de Saúde estão congelados há 20 anos em R$ 1.600 e a indústria nacional tem dificuldades para atender a demanda, após a alta do dólar e componentes importados. “A gente percebeu uma queda de pelo menos 40% no movimento entre os cirurgiões que fazem cirurgia cardíaca de peito aberto. Além disso, vários estudos científicos, alguns feitos pelo Instituto do Coração, têm demonstrado uma queda de volume até maior do que 40%”, diz Rocha.
De acordo com ele, a situação já foi levada ao Ministério da Saúde em diversas reuniões, mas ainda não há uma ação definida que possa restabelecer a normalidade das cirurgias no SUS.