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‘Aids levou minha visão do olho direito e limitou meus movimentos', diz jovem que incentiva diagnóstico precoce

"Era só uma garganta inflamada e um mal-estar leve. Quem seria capaz de associar isso com HIV?", indaga Vitor Ramos

29/08/2022 13h22
Por: Redação
Fonte: Correio Braziliense

Em 2015, Vitor Ramos, na época estudante de administração, começou a sentir sintomas gripais. "Era só uma garganta inflamada e um mal-estar leve. Quem seria capaz de associar isso com HIV?", indaga ele, que só recebeu o diagnóstico três anos depois. Vitor conta que a hipótese demorou muito a passar pela sua cabeça. "Eu achava que nunca tinha me relacionado sexualmente com alguém portador do vírus, porque na minha cabeça essa pessoa seria acamada e estaria muito fraca", diz.

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Dois anos depois do aparecimento dos sinais mais genéricos, em 2017, Vitor teve quadros intensos de diarreia que o fizeram perder cerca de 20 quilos e passar por oito hospitais em busca de um diagnóstico na cidade de Araçariguama, onde morava no interior de São Paulo, e em municípios próximos. "O gastroenterologista pediu uma colonoscopia que voltou inconclusiva para doença de Crohn [uma doença inflamatória do trato gastrointestinal], a principal suspeita do médico. Mesmo assim, ele decidiu me tratar como se eu tivesse o quadro", lembra.

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"Na ocasião, minha mãe chegou a perguntar: 'Doutor, não pode ser HIV?', e ele respondeu que não era 'comum em homens'. Entendi aquilo como uma suposição equivocada de que eu seria um homem hétero, já que o HIV ainda é muito associado aos homossexuais." A infecção pelo vírus, na realidade, pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual. O HIV está presente em secreções (fluidos) como sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno. Por isso recomenda-se sempre o uso de preservativos no sexo, e que mães soropositivas alimentem seus bebês com fórmula infantil.

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Além do diagnóstico incorreto, o médico que atendeu Vitor receitou um medicamento imunossupressor, efetivo para o tratamento de doença de Crohn, mas extremamente nocivo para quem vive com HIV. "Os medicamentos imunossupressores podem atuar enfraquecendo diferentes partes do sistema imune a depender de qual é o remédio receitado. Considerando um paciente que já estava com imunidade celular baixa, se usar medicação que piora a imunidade, há o risco de deixá-lo muito suscetível às infecções oportunistas, que às vezes somente o HIV não seria suficiente para causar", aponta o médico infectologista acreano Dyemison Pinheiro, que não acompanhou o caso de Vitor.

"A partir do dia que comecei a tomar o medicamento, a piora foi muita rápida. Eu digo que fui ladeira abaixo, e uma ladeira bem íngreme. Comecei a andar devagar, as diarreias não paravam, eu só ficava em casa porque poderia precisar do banheiro a qualquer momento. Precisei trancar a faculdade", lembra Vitor. Com o quadro cada vez mais grave, sua família insistia para que ele procurasse um pronto-socorro. "Eu tentava disfarçar dizendo que estava bem. Mas um dia, minha irmã chegou decidida a me levar. Eu fui até o carro andando, e quando chegamos no hospital, já não sentia minhas pernas. Precisei ser tirado por um segurança e fiquei na cadeira de rodas. Ali, senti que algo estava muito errado."


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