Internacional

Famílias afegãs vendem suas filhas para não morrerem de fome

Milhares de famílias deslocadas da região, uma das mais pobres deste país da Ásia Central, vivem esta trágica história. A maioria fugiu da seca que assola suas localidades de origem.

27/10/2021 00h11
Por: Redação
Fonte: O Povo

Desde que seu marido disse a Fahima que eles deveriam vender suas duas filhas para que a família não morresse de fome depois de ser deslocada pela seca no oeste do Afeganistão, sua esposa não parou de chorar.

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Farishteh, de seis anos, e Shokriya, de um ano e meio, sorriem com o rosto cheio de lama ao lado da mãe em sua casa de barro coberta com lonas perfuradas, sem saber que foram dadas em troca de dinheiro às famílias de seus futuros maridos, também menores de idade.

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Seus compradores pagaram cerca de US$ 3.350 pela mais velha, e US$ 2.800, pela mais nova. 

Assim que o valor total for pago, o que pode levar anos, as duas meninas terão de se despedir de seus pais e deste campo para deslocados internos em Qala-i-Naw, capital da província de Badghis, onde a família, originária de um distrito vizinho, encontrou refúgio.

 

Milhares de famílias deslocadas da região, uma das mais pobres deste país da Ásia Central, vivem esta trágica história. A maioria fugiu da seca que assola suas localidades de origem.

 

Em acampamentos de refugiados e vilarejos, os jornalistas da AFP identificaram pelo menos 15 famílias forçadas a proceder dessa forma por quantias de US$ 550 a US$ 4.000 para sobreviver.

 

A prática é generalizada. Os responsáveis pelos acampamentos e aldeias contabilizaram dezenas de casos desde a seca de 2018, um número que aumentou com a de 2021.

 

A família de Sabehreh, de 25 anos, vizinha de Fahima, pegou comida fiado em uma mercearia. O proprietário ameaçou "prendê-los", se não pagassem.

 

Para pagar suas dívidas, a família vendeu Zakereh, de três anos, que se casará com Zabiullah, filho do dono da mercearia, de quatro anos. A menina não suspeita de nada. Enquanto isso, o pai de seu futuro marido decidiu esperar até que ela tivesse idade suficiente para levá-la com eles.

 

"Não estou feliz por ter feito isso, mas não temos nada para comer nem beber (...). Se continuar assim, (também) teremos que vender nossa filha de três meses", desespera-se Sabehreh.

 

"Muitas pessoas estão vendendo suas filhas", diz outro vizinho, Gul Bibi, que vendeu sua filha Asho, de oito ou nove anos, para um homem de 23 anos, a quem sua família também devia dinheiro.

 

Bibi teme que esse homem volte do Irã para tirá-la de seu colo. "Sabemos que isso não é certo (...), mas não temos outra opção", resigna-se.

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